terça-feira, 31 de agosto de 2010

Debate P.O. [#1] 1/2



Olá leitores do Phylosophy Otaku, hoje darei início a uma nova coluna no blog, o Debate P.O.

Diferente da minha outra coluna que é retardada e conta com a participação ativa dos leitores, o debate será sério e os debatedores serão os próprios filósofos do blog. Claro que isso pode gerar um problema de assiduidade, pois não será sempre que conseguiremos um número razoável de autores, com opinião formada sobre o tema do debate, todos juntos. Apenas posso prometer que faremos o melhor possível.

Agora sem mais delongas, o tema do debate de hoje é: "A polêmica dublagem de animes: exagero dos otakus ou falta de qualidade?"

Se for do vosso interesse, cliquem em continue.





A dublagem brasileira, considerada a 2ª melhor do mundo, sempre é tema de discussões entre os apreciadores de filmes, séries, animes e derivados.

Porém, há dois ramos distintos nesse meio de discussão, os que dizem que a dublagem acaba com a essência do "produto" e os que partem para uma opinião mais humana, dizendo que a dublagem é necessária para que uma parcela maior de pessoas possa aproveitar essas produções.

Então, nesse contexto dúbio, surge a pergunta: será que estamos nos deixando levar pelo senso comum ao criticar a dublagem brasileira?

Para responder essa e outras perguntas que surgirão e também refletir um pouco sobre o assunto temos hoje os seguintes debatedores: Sawada (criador do P.O. e escritor de metade das colunas do blog), Pss (colunista que escreve o PhilosoReview e o Superflat), Otaking (colunista que escreve o Techyoo), Lau (colunista que escreve o Gringologia e o LOLsophia) e a Sam (colunista que escreve o Perfil e metade do PhilosoTen).

Rodrigo: Iniciando o debate propriamente dito, gostaria de saber de você, Sawada, qual a sua posição a respeito da dublagem de animes?

Sawada: Já vi realmente dublagens ótimas que foram desvalorizadas pelos otakus, eles se deixam levar muito pela "modinha" que aqueles animes poderão se tornar nas mãos de estúdios em direção a TV.

Rodrigo: Então, na sua opinião, o maior problema seria um certo ciúme por parte dos otakus? (só eu conhecia aquele anime, agora vai passar no SBT)

Sawada: Exatamente, eles não querem que aquilo seja visto de uma forma diferente da qual eles estão acostumados (e também não querem ver crianças brincando pela rua de "churiken" e de "saske").

Rodrigo: Entendo, mas não é muito egoísmo dos otakus quererem que os animes sejam só deles?

Lau: Eu acho que isso é perfeitamente normal. Até porque Anime tem aquele estereótipo característico do "é para crianças" e as únicas pessoas que defendem que não, são os próprios fãs. Então ver crianças a brincar assim, só reforça a ideia para o resto das pessoas.

Sawada: Anime "é" uma exclusividade otaku, as crianças normalmente os veem no formato atual como um "desenho".

Lau: Mas depois se tornam otakus.

Sawada: Sim, há casos em que elas começam a gostar de anime e ver que estavam erradas em achar que era apenas um "desenho". Meu caso. (risos)

Lau: E meu.

Pss: Acho que de todos.

Lau: É provável. E ironia ou não... Crescemos com os animes dobrados.

Rodrigo: Saindo um pouco da infância e partindo para a nossa fase crítica, por que os otakus preferem muito mais animes legendados se a dublagem brasileira já se mostrou competente, Pss?

Pss: A dublagem brasileira pode até ser competente, mas depende muito do estúdio, para começo de conversa. Depois que, o trabalho dos fansubs com a adaptação é melhor do que a dos tradutores brasileiros, que corrompem a naturalidade das situações.

Pss: Para citar um caso, na dublagem da Saga do Santuário, o dublador Guilherme Briggs, improvisou um "Cala a boca", em vez de um "Cale-se", que soaria forçado (quase foi metralhado pela crítica)

Rodrigo: O problema real, então, está na adaptação e não na dublagem em si?

OtaKing: O que acontece é que as falas e expressões são adaptadas para se encaixarem melhor na cena, e isso, em sua maioria, desagrada os ditos "otakus hardcore".

Pss: Independentemente de ser hardcore ou não, muita coisa importante é cortada ou distorcida.

Pss: Ou seja, sim, o problema é a adaptação.

Lau: Quanto à dobragem brasileira, eu não sei, pois só vi um anime assim, que foi Kaleido Star. No entanto de modo geral, posso dizer que só incomoda a dobragem aos otakus quando o anime é mais recente, ou depois de ver o original. (japonês é sempre melhor, obvio)

Sawada: O inglês, por exemplo, é uma língua fácil de ser dublada, porque tem certo tempo para o dublador falar o que tem que falar. Já expressões em japonês, uma palavra pode significar uma frase, o que pode ser o motivo da "adaptação".

Rodrigo: Os cortes feitos na adaptação não ocorrem por fatores culturais?

Sawada: Fatores culturais já vêm a parte dos cortes no anime em si, como One Piece, o que não vem ao caso.

Rodrigo: Otaking, por que os otakus dizem que a dublagem japonesa é indiscutivelmente melhor? Qual o padrão usado por eles para dar tal declaração?

OtaKing: Bem, eu acho que não só a dublagem japonesa; o áudio original de qualquer coisa, seja anime, filme ou série, é sempre bem melhor em relação ao áudio dublado, tanto pelo fato das adaptações e cortes, já citados aqui, quanto pela questão do sentido. Por exemplo, quando se tem uma frase que seria engraçada no idioma original, quando ela é adaptada, não é a mesma coisa! Perde todo o sentido. Então, na minha opinião, acho que eles relevam esse princípio de que o áudio original é melhor ao julgarem as dublagens.

Lau: Para alem que algumas coisas ficarão descontextualizadas por uma questão de cultura. (no caso oriental e ocidental)

Pss: Realmente, algumas citações que os fansubs esclarecem entre as legendas, ou trocadilhos, acabam se perdendo por conta da diferença linguística.

Rodrigo: Mas, nas adaptações, piadas e coisas do tipo que só teriam graça no Japão são mudadas por outras que sejam engraçadas aqui. Perde-se o texto original, conserva-se a graça.

Lau: Mas quem viu o original fica indignado. Agora, aquelas pessoas que cresceram com animes dobrados, não vão reparar nesse pormenor.

Rodrigo: Então, se o objetivo é manter a graça, não é frescura dos otakus reclamar desse tipo de adaptações?

Lau: Sim e não. Há otakus mais abertos a essas coisas que outros.

Lau: Por exemplo, para mim, os animes que eu via na infância tem de ser revistos dubrados. Não faz sentido para mim ver de outra forma. Animes que vi depois, como Naruto, que forma agora, quer gostemos quer não a nova geração de otakus... bem... é estranho.

Pss: Aí vai da competência do estúdio.

Rodrigo: É fácil simplesmente colocar a culpa nos estúdios, mas eles têm uma política de prazo e preços a ser seguida de acordo com o cliente. Às vezes há cortes de 50% no prazo de entrega e de 30% no orçamento. Como lidar com isso e manter a qualidade?

Essa pergunta encerra a primeira parte do debate sobre dublagem de animes.Fiquem a vontade para expressar as suas opiniões nos comentários.

Espero todos vocês na segunda parte.